11 Dicas Para Lidar Com Crianças De Espírito Forte – [Nº1] Aprendizagem Experimental

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11 dicas

Há muito tempo atrás, retirei de um artigo da Janet Lansbury (autora, educadora parental, defensora do método RIE) 11 dicas para lidar com a minha “strong-willed child”, ou em português, com a minha criança obstinada, determinada, a minha criança cheia de força de vontade, como costumamos dizer. Ou seja, aquela criança que é muito boa a fazer respeitar os seus limites e as suas necessidades, e que normalmente muitas pessoas chamam também de teimosa, impertinente, mal comportada, desobediente. As tais crianças “difíceis”, os terroristas, os piratas, os terríveis!

Não é de todo fácil lidar com crianças desta natureza, nós adultos vivemos num rodopio de tarefas e responsabilidades e nem sempre temos tempo para responder a todas as solicitações das crianças. Tenho tido os meus próprios desafios pessoais muito grandes. Então, enquanto procurava ajuda e inspiração, ao explorar o artigo da Janet, copiei para uma folha A4 os títulos das 11 dicas, em letras grandes.

Coloquei a folha num placar na cozinha. Quando ia à despensa, muitas vezes ficava a olhar para ela. Ficou lá anos, até que recentemente a mudei de sítio, resolvi colocá-la na parede perto da minha secretária. Então, tenho olhado mais para ela de novo. Hoje, ao refletir um pouco nas dicas, tive a ideia de percorrer a lista, uma dica por semana, falar um pouco sobre ela na minha perspetiva, e fazer um balanço em relação às minhas atitudes com os meus filhos, para me poder reposicionar. Decido partilhar com vocês estas minhas reflexões. Espero que vos seja útil.

Dica nº1 – Aprendizagem Experimental

Esta primeira dica tem a ver com a necessidade que algumas crianças têm de aprender de um modo mais prático, mais real. Tem a ver com deixar as crianças experimentarem as coisas por eles, deixá-los tocar, mexer, experimentar, naquilo que mostram curiosidade e insistência para fazer…

As crianças são curiosas por natureza e exploradores natos. As crianças não conseguem evitar querer mexer, querer experimentar, ver como funciona, ver se são capazes. É ASSIM QUE APRENDEM. As crianças precisam entender como o mundo funciona e há algumas delas mesmo empenhadas a fundo em descobrir todas as possibilidades! 🙂

Muitas vezes estou no meio da cozinha, a preparar o jantar, toda essa rotina, e os meus filhos começam a querer fazer tudo, mexer na comida, mexer nos tachos, etc. Confesso que nesses momentos, não me dá jeito nenhum supervisionar a participação deles. Prefiro planear as coisas, colocar ingredientes de parte, e depois, estar ali só com eles na cozinha a fazer a receita, com as coisas mais controladas. No entanto é mais vezes no meio da rotina diária que eles querem participar. Acredito na flexibilidade e tento olhar à volta a ver o que lhes posso dar para fazer.

Muitas vezes surgem logo aqui CONFLITOS, porque o que eles querem fazer (especialmente o meu filho mais velho de 6 anos) é tudo aquilo que não quero que façam. Quer arranjar o peixe quando eu preferia que ele lavasse a alface, ou quer cortar cenouras com facas demasiado perigosas quando eu prefiro que ele fatie cogumelos.

Muitas vezes não é nada fácil de gerir estes momentos, porque enquanto eu me viro para mexer uma panela ou apanhar um ingrediente da despensa, ou para meter a mais nova no bacio, já ele pegou na faca, já adicionou a farinha antes do tempo, ligou a máquina na função errada, ou derramou algo, ou fez qualquer outra coisa para aumentar o caos.

Atenção, a atitude dele está ótima, ele tem a melhor das intenções (ajudar, contribuir, pertencer, aprender, mostrar que é capaz, que tem valor) e ao mesmo tempo atrapalha-me imenso a vida. Sim, muitas vezes estou assoberbada e respondo com ralhetes, e outras coisas de mãe mal humorada (não me orgulho muito embora saiba que faz parte e é normal).

No entanto não gosto de pensar que o meu filho um dia se vai recordar da sua infância com frases que a mãe dizia, tipo
– Por amor de Deus, não aguento mais isto, não vês que estou cansada, sempre a limpar tudo sempre a limpar toda a desarrumação que vocês fazem, bla bla bla…
Sim, porque é isto que eu digo muitas vezes.

Outras tantas vezes consigo ter presença suficiente para o RECONHECER pela sua ajuda, e ao mesmo tempo estabelecer um limite naquele momento que seja necessário ao bom ambiente e que sirva as necessidades de todos.
– Pedro, nem acredito no bom ajudante que te estás a tornar. Tens imensa iniciativa e já mostras como sabes fazer tantas coisas sozinho. Sabes, há algumas tarefas que até os ajudantes precisam da ajuda dos mais velhos e experientes. Nesta cozinha eu sou a cozinheira-chefe, não vês como sou eu que faço quase todas as comidas e sei onde está tudo? Então, os ajudantes precisam de ser orientados. Vamos lá, primeira tarefa, arranjar uma taça para colocar a farinha.

Uma abordagem deste género, dependendo se o Pedro está mais calmo ou agitado, funciona bastante bem. Ah – e se eu estiver também SERENA claro, condição inevitável para o sucesso de qualquer interação com os nossos filhos.

E SE NÃO FUNCIONAR E A CRIANÇA ESCALAR A BIRRA E DIFICULTAR A COISA?
Outras vezes, se o ambiente estiver tenso e a coisa subir de tom, se ele insistir em algo que não pode, se o conflito aquecer, vale sempre a pena PARAR UM POUCO e reconhecer o que se está a passar, aceitando sem julgamentos as emoções mais intensas que estiverem presentes, de todas as pessoas. Ensinar autoregulação, e depois voltar à conversa das tarefas e das experimentações e da negociação que vai haver. DEPOIS das emoções reguladas e das atitudes exacerbadas controladas.

As crianças querem fazer, querem experimentar, e a nossa função é permitir-lhes acesso a essas experiências, sempre que o bom senso e a segurança concordarem. Mas umas vezes vamos ter de colocar um limite, um momento de contenção, quando não dá, não dá. (As crianças não podem fazer simplesmente o que querem!)
– Agora mesmo temos de parar as experiências na cozinha, preciso de algum tempo para me organizar. Assim que eu enquanto cozinheira chefe tiver as tarefas orientadas, já chamo os subchefes.
OU
– Hoje a cozinheira chefe já tem todas as tarefas orientadas, o que resta a fazer tem de ser ela mesma. Que tal planearmos um jantar para amanhã com a ajuda dos subchefes? Vai buscar um papel e uma caneta para começarmos a planear!

Muitas vezes as crianças querem fazer coisas, cortar o pão, bater com o martelo, serrar, usar x-ato, enfim algo que achamos demasiado perigoso, e uma forte tendência é dizermos coisas do género
– Não faças isso
– Olha que te cortas
– Dá cá que eu faço
– Deixa estar que ainda és pequeno
– Não tens força para isso
– …

Muitas vezes essas negações só resultam em insistência, birra, aborrecimento do lado da criança. O que descobri é que muitas vezes perco menos tempo, e ela aprende efetivamente algo, se escolher deixar a minha filha de 3 anos por exemplo, cortar o pão com a faca perigosa: neste caso, coloco o pão na tábua, deixo-a subir para o banco, ensino-lhe todos os movimentos corretos fazendo primeiro descrevendo todos os procedimentos em câmara lenta (seguras com esta mão assim, tens cuidado com o dedo assim, bla bla). Depois coloco-me atrás dela e com as minhas mãos seguro as suas, e fazemos juntas. Dependendo da coisa ela faz um pouco sozinha.

Outras vezes, deixo-a simplesmente fazer um pouco do que ela está a pedir. Por exemplo acontece com aspirar ou com segurar na mangueira enquanto estou a lavar a rua. Ela anda de volta de mim só a pedir para segurar e mexer e eu quero-me é despachar. Quando vejo que a birra começa a subir, simplesmente dou-lhe  o aspirador, a mangueira, o que for.
Dica extra, muito importante, digo sempre:
– Ok, quando acabares de utilizar ou quando te fartares, diz-me. (dar esta opção faz muita diferença)
E vou fazer outra tarefa qualquer (coisas para fazer nunca faltam). E sabem que mais, maioria das vezes, ao fim de poucos segundos ou minutos, lá surge a vozinha dela:
– Já tá mãe, acabei.
Ou:
– Ponto, já tou fáta!

Então esta dica nº1 da aprendizagem experimental fala-nos de aprender fazendo, deixar experimentar em segurança, deixar fazer pelas mãos deles, ver nas mãos deles. Podiam caber aqui mil exemplos, eu usei o da cozinha e da limpeza. Tocar em coisas quentes, ver como funcionam ferramentas, calçar-se, vestir-se, mexer nos botões do carro, … há muitas áreas que a curiosidade deles é grande e só acreditam.. mexendo!

Esta dica tem-me ajudado muito, é fácil de usar, porque na verdade acalma bastante os ânimos da criança que está para soltar uma birra – e atenção que a birra mostra-nos que é mesmo importante para esta criança perceber mais sobre aquilo, ou conhecer melhor aquilo. E depois resolve-se a curiosidade relativamente depressa de um modo geral. Maioria das vezes a criança só quer mesmo experimentar e depois farta-se.

Por ver a eficácia desta estratégia tenho usado bastante e julgo estar a ser bastante positivo para a construção da AUTOESTIMA dos meus filhos, para o estímulo da sua curiosidade, vontade de descoberta, mente investigadora, pensamento crítico, confiança própria.

Se tiverem casos práticos ou questões concretas, podemos discutir a aplicação desta dica nos comentários!

Até já!!

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