*consultar introdução e contexto destas 11 dicas na primeira dica, aqui.
Dica nº 10 – Evita brigas e castigos, ajuda na gestão emocional e usa os bons momentos para a disciplina.
Eu é que tenho 36 e ele é que tem 6 anos, mas mesmo assim são muitas as vezes em que dou por mim a entrar em brigas com o meu filho (e também com a de 3, já agora). Seja porque me sinto frustrada, pouco ouvida ou cansada. Às vezes, não se distingue a criança do adulto.
Apesar de todos termos dias menos bons, também é verdade que, por norma, em teoria, deve ser o adulto aquele que domina e gere as suas emoções de melhor forma. Aquele que tem mais maturidade emocional. Ajudando assim as crianças a lidar com as suas próprias emoções – o adulto deve mostrar que também tem emoções, exemplificando como lidar de forma saudável com elas.
Mas muitas vezes não aceitamos o temperamento forte e explosivo dos nossos filhos, às vezes até quando nós somos os primeiros a ter esse tipo de comportamento. Por mim falo. Se durmo pior, ando a gerir alguma crise familiar ou no trabalho. Se não tenho tempo para mim, se ando cansada demais ou stressada – é fácil perder a paciência em menos de nada, perante as infantilidades dos meus filhos. Porque são só isso – coisas de crianças.
Quando não querem a comida que acabaram de pedir há dez minutos; quando se batem e brigam entre eles; quando mexem onde não devem; quando não querem cumprir rotinas; quando não querem sair do parque; quando não querem ir dormir… Tudo isto são coisas próprias das crianças e da sua imaturidade psicológica e emocional. São comportamentos que estão a expressar necessidades físicas ou emocionais… Só que eu às vezes parece que também ainda não atingi a maturidade emocional… – e aí surgem os cenários onde mãe e filho, adulto e criança, lutam pelo poder e pelo controlo. O que não traz nada de bom.
Também é verdade que quando quero ou preciso que os meus filhos façam certa coisa, só piora quando eu tento ir pela via do autoritarismo, ameaça ou imposição. Aliás cada vez está mais difícil simplesmente obrigar o meu filho a fazer algo – além disso, não é esse o caminho: eu quero que saibamos COLABORAR em vez de eu ordenar, e ele fazer. Até porque isso não o torna em tudo aquilo que eu quero que ele seja quando crescer: autónomo, responsável, colaborativo, consciente, cívico, respeitador.
Para conseguir isso, eu tenho de treinar a minha maturidade emocional e conseguir atingir muito mais autocontrolo. De modo a evitar brigas e a conseguir comunicar apenas o que deve ser comunicado em cada momento.
NA PRÁTICA:
No meio de um conflito, birra ou momento de tensão, especialmente quando os ânimos se exaltam, eu vou me esforçar por apenas oferecer uma PRESENÇA CONSCIENTE, não ignorando, mas não mostrando muita reatividade. Evito julgar ou criticar, e nesse momento evito também ensinar algo, ou dar alguma moral. Vou APENAS impedir o comportamento indesejado, impedir agressões ou prejuízos a pessoas ou objetos. Às vezes preciso usar contenção física para isso. Nesses casos, o mais defensiva possível. Se a criança tem de fazer alguma coisa e se recusa, apenas espero. Digo-lhe que estamos à espera das emoções fortes passarem, para poder prosseguir o necessário.
Vou reconhecer as emoções presentes. A criança sente-se frustrada, aborrecida, triste, porque houve algo que não queria ou um obstáculo qualquer. Vamos parar nesse momento e relatar o que está presente. Vamos relatar como ela se comporta, está tão triste que até mordeu no irmão. Está tão aborrecida que nem consegue tomar banho. Está tão zangada que nem quer comer. Não faz mal estar triste, é normal estar zangado, todos nos aborrecemos por vezes. Eu às vezes também estou frustrada, zangada, magoada.
Temos é que ensinar as crianças a mostrar de outra forma, não batendo, nem partindo nada, nem magoando os outros. Isso não é permitido. E eu ensino isso pelo meu exemplo, porque apesar de me sentir irritada ou zangada pela criança não fazer o suposto, fico calma o suficiente para comunicar as regras e limites de forma assertiva, gentil, mas firme. Contenho os comportamentos inapropriados do meu filho, mas mais numa lógica de GUIAR, ORIENTAR, MOSTRAR COMO SE FAZ. Aceito os sentimentos difíceis que estão por detrás do comportamento indesejado – e é assim que vejo o mau comportamento a desaparecer quase por magia.
DEPOIS, MUITO IMPORTANTE – Não falo sobre o que aconteceu na hora, vou controlar esse impulso e apenas deixo o momento mau passar. Depois, mais tarde, numa viagem de carro, ou quando nos deitamos, ou num momento em que sinto conexão e calma, puxo o assunto, digo que há uma coisa que fiquei a pensar, e que gostaria de falar. Falo sobre as minhas expectativas e sentimentos também, sobre o que se passou. Evito acusações ou críticas. Mantenho uma mente aberta a ouvir o lado do meu filho. Quando me predisponho a esta comunicação mais autêntica, normalmente os níveis de conexão aumentam muito – isso melhora a RELAÇÃO. E tudo isto aumenta imenso a probabilidade de o meu filho COLABORAR EM VEZ DE DESAFIAR.
Com as crianças mais pequenas, faço uma versão disto, simplesmente adaptada ao nível de compreensão da criança. Tenham a idade que tiverem, se tratar os meus filhos como seres humanos, como pessoas que são, vejo uma grande diferença nos seus comportamentos. Tento não infantilizá-los, uso as palavras certas para as coisas.
Atenção, nada aqui pretende pressupor que os miúdos têm tudo o que querem. Eu continuo a ter mais responsabilidade social, financeira, psicológica. Vou ter de tomar certas decisões – e ajudá-los a lidar com as emoções fortes se essas decisões não lhes agradarem.
FRASES A EVITAR, POIS NÃO FAVORECEM A CONEXÃO:
- Já te tinha dito não sei quantas vezes…
- Eu bem te disse que não ias conseguir!
- Já devias saber que não podes fazer x!!
- És sempre a mesma coisa, és mesmo distraído.
- Tem que ser, temos de ir dormir agora, sabes muito bem.
- Tu és mais velho, já devias saber, és um irresponsável!
- Tens de te portar bem, ser crescido e ajudar a mamã!
- …
FORMULAÇÕES QUE FAVORECEM A CONEXÃO E MELHORAM A RELAÇÃO:
- Eu percebo que te sintas assim, é extremamente desagradável X situação…
- Vejo que te sentes zangado, não conseguiste fazer Y coisa e querias muito.
- Entendo como te sentes, eu quando era pequena, lembro-me de Z acontecer e de como fiquei triste.
- Agora é hora de dormir. Tu não queres nada dormir. Querias mesmo era que ainda não tivesse chegado esta hora.
- Entendo que agora querias jogar mais tablet. Tu adoras jogar! Agora terminou a hora combinada, queres falar sobre quando será a próxima vez que podes jogar?
- Aconteceu-te esse incidente e agora sentes-te frustrado. Queres falar sobre isso?
- …
Então é isso mães e pais, melhorem a conexão com os vossos filhos, evitem julgamentos, críticas, brigas e castigos. Lembrem-se que para disciplinar tem hora, e que os vossos ensinamentos e lições passam muito mais eficazmente se forem feitos na hora certa, em calma, em tranquilidade, em conexão. Nem crianças nem adultos aprendem nada em momentos de stress, cortisol elevado, sistema límbico todo ativado na defesa. É simplesmente contraproducente estar a tentar ensinar e educar em momentos de crise, birra, choro ou emoções fortes. O sistema está demasiado ocupado a lidar com essas coisas e não vai reter nada da aprendizagem.
Faz sentido?
Pensem nisso, adaptem a vossa abordagem na disciplina dos vossos filhos e vejam os resultados!
Um bom fim de semana a todos!!! 🙂 Sejam bons uns para os outros!