11 Dicas Para Lidar Com Crianças De Espírito Forte – [Nº 5] Serve-te Das Rotinas

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dica n 5

*consultar introdução e contexto destas 11 dicas na primeira dica, aqui.

Dica nº 5 – Utiliza as rotinas para evitar lutas de poder

– Hora de tomar banho, meninos, vamos embora.
– Nããããoooooo queremoooosss.
– Tem de ser, vamos lá.
– Não vamos!
– Mas quantas vezes tenho de dizer, é hora do banho e pronto, mas que coisa. Se continuam assim, amanhã não tocam na tv nem no tablet.
– Não é justoooo, mãeeee, o tablet é nosso, não mandas nele.
– (subindo de tom) Ai isso é que mando, eu é que mando aqui em casa, em vocês e nas coisas que cá temos. Agora, já para a banheira que eu estou a mandar.
– (a chorar e a barafustar lá se arrastam para a casa de banho, isto se não continuar o despique por mais um bocado, subindo o tom das ameaças e dos conflitos)

Já lhe aconteceu algo do género? Aqui foi no banho, mas podia ter sido na hora de fazer trabalhos de casa, quando tem que gerir lutas entre irmãos, ou quando passam a vida agarrados às tecnologias.
Já deu por si a teimar com uma criança? Às vezes tão frustrada ou irritada como ela? Ou mais até? Observo muitos pais e mães (e a mim própria?‍♀️) a iniciar uma comunicação com os filhos numa dada situação, e quando dão por isso, estão no meio de uma luta de poder, com argumentos muitas vezes já mais desesperados do que outra coisa – quem nunca usou o velho clássico “vais e vais mesmo porque quem manda aqui sou eu e sou mais velha e eu é que sei e pronto”?

Não sei quanto a vocês, eu fico frustrada quando dou por mim numa luta de poder. Quando vejo os outros parece-me mesmo ridículo – quando observo o meu marido a entrar numa luta de poder, por exemplo, costumo pensar de forma muito julgadora: “Mas quem é que tem 6 anos e quem é que tem 40? Por favor, parecem dois gaiatos…” Pois é, muitas vezes sou também eu a gaiata a entrar em birra com os meus filhos para fazerem aquilo que eu preciso que façam.

Prezamos na Parentalidade Consciente uma relação de igual valor – desejos e sentimentos dos pais e dos filhos têm o mesmo valor, mas os adultos têm mais responsabilidade, claro!! Defendemos uma relação em que há comunicação consciente, explicação e negociação, ao invés de imposições de força e ameaças – muitas vezes vãs, ainda por cima.

Então, quando os conflitos escalam e as lutas de poder se instalam, em alguns momentos podemos usar pequenas técnicas que nos ajudam muito a acelerar pelas tarefas fora.. e que dão muito jeito quando não há grande paciência, tempo ou disponibilidade emocional para lidar com aquilo..

USAR AS ROTINAS COMO DESCULPA é uma destas técnicas, tão simples quanto eficaz. Não funciona sempre, como tudo, mas funciona muitas vezes! Posso garantir! Não tem grande ciência – basta usar uma formulação em que apontamos a rotina como a grande culpada das situações, essa grande marota da rotina e o terrível do relógio, que não pára. Nós, pais, que culpa temos? Em boa verdade, nenhuma. Por isso até me sinto bastante congruente quando uso esta técnica.

Então, NA PRÁTICA:

Primeiro passo– já sabem, RECONHECER as emoções e desejos da criança, sem julgar nem humilhar:
– Inês, querida, estou a perceber que não queres mesmo nada tomar banho agora. Estás tão triste que até tens vontade de chorar. Fogo, querias mesmo era continuar a ver o filme. Se pudesses, continuavas a ver o filme até ao fim.
Em vez de: Deixa de ser choramingas e pára com isso, agora só porque tens de parar o filme 10 minutos para tomar banho fazes um drama desses, vá já chega, já se ouviu, etc etc…


Segundo passo – CULPAR A ROTINA!!
– Sabes, é que EU, POR MIM, está tudo bem, por mim estás na boa, MAS a grande situação, sabes, é que são X horas, e já sabemos que todos os dias às X horas é hora de *tal coisa*, tomar banho (por exemplo). Ou seja, não tenho culpa Inês, não posso fazer nada. É assim, todos os dias, o que queres que faça? Ui, olha o relógio, já tem o ponteiro grande em cima, já são mesmo X horas! Ui ui, quem será que inventou os relógios? Bem lá terá de ser, temos de ir fazer *tal coisa* agora, porque as rotinas, já se sabe, são para cumprir!
– Já sabes, a seguir a X vamos sempre fazer Y, e hoje não é diferente. Não sou eu que estou a dizer, é assim que sempre fazemos na nossa família, então hoje é importante fazer igual.
(super parêntesis para enfatizar a importância de termos ROTINAS com as crianças, que as fazem sentir seguras e menos propensas a birras e resistência – e só se tiver rotinas é que pode usar esta técnica, claro! ?)

Portanto, estão a ver, desculpem-se com o desenrolar rotineiro das tarefas, e sendo um culpado intangível, estão SAFOS! De nada!

Agora a sério, não entrem em lutas de poder com os vossos filhos (É hora / não é / é sim / não não / ai já te disse que sim / mas eu não quero / mas tens de ir / mas eu não quero, etc, etc.). Se eles insistem muito nas coisas, podem dizer algo do género:
– Hmm, já me perguntaste isso antes não foi? E o que foi que te respondi? Pois, então é isso.
OU
– Bem, eu já respondi a isto quatro vezes por isso não vou responder mais porque me aborrece um pouco estar sempre a repetir. (e mantenha-se na sua, e quando eles perguntarem outra vez, apenas diga “eu já respondi a isso” ou “já disse tudo o que tinha a dizer”)

DICA EXTRA – tal como podem culpar a rotina, podem aproveitar-se de entidades externas para validar o vosso ponto de vista de adulto responsável em diversas questões, por exemplo: o meu filho usa aparelho removível, e muitas vezes aborrece-se de usar, ou lavar ou algo assim, e eu sempre esquiva, falo logo na médica dentista:
– Pedro, mas lembras-te do que disse a dentista? É que eu não percebo nada disso, ela é que mandou e disse e tal… Não tenho culpa, não podemos chegar à consulta e depois ela perguntar e tu não teres feito, não achas, depois como é?…
OU
Quando ele usava ainda chucha (usou até ao dia que fez 5 anos) um dia disse-lhe:
– Por mim podes usar, mas olha quem percebe mesmo disso é o dentista, eu vou lá amanhã, que tal vires comigo e perguntamos sobre esse assunto. (e fomos!!)

Com outros temas, podem recorrem aos diferentes especialistas na comunidade: Questões de animais perguntam ao veterinário. Questões de segurança podem pedir ajuda no posto da GNR ou, se for na praia, ao nadador salvador. Questões de dinheiro podem sempre entrar num gabinete de contabilidade e piscando o olho ao funcionário dizem que a vossa criança tem uma dúvida urgente!!

Às vezes os miúdos resistem mais só porque somos nós, os pais, alvo preferido das suas fúrias e frustrações. Se certa informação vier de terceiros, acatam muitas vezes com mais facilidade. E porque não usar isso, e ainda por cima aproveitar e criar este momento de aprendizagem em que interagem com serviços da comunidade?

Eu adoro estas dicas e uso imenso. Digam-me o que acham nos comentários, as vossas histórias, exemplos, dúvidas ou sugestões! Até já!!

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Sonia Carraco
Sonia Carraco
5 anos atrás

Tânia, Li o post com muitaaaaaa atenção. Quero muito conseguir pôr em prática! Temos uma fase de birras “daquelas”…..