O meu filho Pedro vai entrar para o primeiro ano em Setembro e não tenho propriamente escondido que isso me causa uma certa ansiedade. Tenho trabalhado nesse assunto internamente o melhor que posso, para evitar passar ao meu filho este sentimento algo desagradável que tenho associado a um momento de transição importante na vida dele.
Acontece que na verdade, estou super feliz por vivermos esta fase ?, acho que ele vai adorar saber ler, todo um mundo se vai abrir, todo o conhecimento à sua espera. Vai ser delicioso assistir. Adoro ver os meus filhos a desabrochar, descobrir as suas reações, como se vão expressar, por que caminhos se vão formando as suas personalidades, como absorvem os mistérios deste mundo.
Temos a sorte de o Pedro ser condicional, ficou ainda mais este ano na pré, e estou super feliz por ter tomado esta decisão. Acho que foi uma boa escolha, neste caso específico. O Pedro é uma criança sensível, dócil, com uma mente muito imaginativa e inquieta. É também imensamente energético. Não fica muito tempo parado no mesmo sítio, adora correr, pular e saltar, mexer, experimentar, fazer e concretizar planos. Gosta de fingir que é um leão, uma chita ou um dinossauro, claro, não fosse ele obcecado por dinossauros. Encarnar animais é a sua brincadeira preferida. Não aprecia lá muito desenhar (como o próprio informa) nem costuma ficar à mesa muito tempo em trabalhos manuais e coisas do género. Às vezes fica bastante tempo entretido com uma coisa, como Legos, mas isso não acontece com muita frequência. Normalmente aborrece-se rápido e prefere saltar de brincadeira em brincadeira.
Vejo grande potencial no meu filho (tal como todas as crianças têm) e adoraria que ele (e todas as crianças) pudesse ter acesso a um modelo de ensino que, muito embora tenha obviamente de garantir certas aprendizagens essenciais, o garantisse tendo em conta os interesses pessoais do Pedro, suas características e necessidades. Porque isso é possível. É possível e é urgente, pela ética da educação!
Existem hoje em dia carradas de provas científicas, estudos, desenvolvimentos nas ciências da educação e nas neurociências, que nos mostram os pilares essenciais para a educação. Uma educação que forme uma geração de futuros adultos responsáveis, empáticos, bem ajustados à sociedade, felizes e produtivos! Já todos sabemos o que temos de fazer, e tem a ver com isto também – respeitar o ritmo das crianças, conduzir a sua curiosidade natural para introduzir as matérias a leccionar, ter em conta de forma permanente não só a matemática e o português mas também as competências transversais – saber ouvir, saber respeitar, saber estar, saber comunicar, saber gerir as emoções.
As escolas hoje, infelizmente, ainda não estão a fazer isto. Estou a generalizar como é claro. Sei que existem imensos bons profissionais da educação, pessoas que apesar dos constrangimentos, conseguem em sala de aula criar uma relação com as crianças e ter um ambiente mais propício à aprendizagem. Mas estas pessoas-pérola que aparecem na vida dos nossos filhos se tivermos sorte, não fazem milagres por si só. E trabalham num grande estrangulamento. A estrutura, a cultura tem de mudar. Tem de haver menos crianças por turma, os professores têm de ser mais respeitados na sua carreira, os edifícios da escola têm de ser mais adequados, as crianças têm de aprender mais fora dos muros da escola também. Tem de se reavivar o sentido de comunidade.
Ainda ouço demasiados relatos e observo demasiadas situações tristes… professores, educadores, auxiliares a gritar, a castigar, a reprimir, a humilhar. Vejo crianças sentadas por mais tempo do que é normal e saudável, ouço crianças a dizer que na escola, só gostam do recreio, e vejo muitíssimos jovens desmotivados pela escola.
A escola tem muito que aprender.
Existem imensos casos práticos, exemplos de escolas a eclodir pelo mundo fora, notícias diárias na imprensa, destaques para escolas que funcionam de forma diferente, com sucesso. O modelo de ensino centrado no professor, na transmissão de conhecimento, nos programas seguidos de forma igual para um grupo de vinte e tal alunos – – esse modelo está comprovadamente ultrapassado. Mas mesmo com todas as exceções, ainda continuamos a ver este modelo em muitas, muitas salas e escolas do nosso país.
Então é aqui que residem as minhas preocupações. Tenho receio de o meu filho ter dificuldade em se adaptar a este sistema. Sei que as crianças são muito flexíveis e se moldam aos contextos, e ao mesmo tempo, também sei de tantas outras que passam um percurso desafiante por não se enquadrarem no perfil mais “clássico estudioso”, digamos assim. Então receio pelo meu filho, receio que ele apanhe uma professora cansada, desmotivada ou frustrada. Receio que a aprendizagem dele, logo agora nesta fase que vai ser de alta expansão, fique tolhida dentro de 4 paredes sempre iguais. Receio muito que se esqueçam de que ele ainda precisa tanto de brincar, e do quanto ele aprende enquanto brinca!
Desde que ele nasceu que isso me preocupa e na verdade foi o factor motivador para todo o meu percurso, desde há sete anos, nestas temáticas da Parentalidade e Educação Conscientes. Uma das opções que surgiu foi criar um projeto com outras famílias, uma comunidade de aprendizagem onde os nossos filhos pudessem fazer o seu percurso escolar da forma mais interessante, produtiva e eficaz possível – tendo em conta os resultados que gostaríamos de obter: educar, escolarizar, formar um ser humano que seja uma mais valia para este planeta, que seja responsável, consciente e feliz.
Inúmeros obstáculos se colocam a quem tenta criar uma alternativa ao ensino convencional, começando claro pela sustentabilidade financeira. Visto que moro numa terra pequena, numa zona com baixa densidade populacional, agrava os obstáculos – acabei por colocar os meus filhos no ensino público da zona. Sem querer generalizar, mais uma vez, mas a oferta pública poderia ter tanta mais qualidade…
Foi publicada muito recentemente em Diário da República a portaria nº 69/2019 que procede à regulamentação das modalidades de ensino individual e ensino doméstico, previstas no Decreto-Lei nº 55/2018, de 6 de julho.
Mais uma vez o governo não aproveitou a oportunidade para enquadrar e facilitar a criação de projetos educativos alternativos, já que no ensino público não existem alterações estruturais e sendo que continuamos a observar modelos obsoletos (generalizando!). Ainda não deve ser desta que concretizo o meu sonho de criar uma estrutura de escolarização que vá REALMENTE de encontro aos interesses de TODOS, crianças, professores, pais, comunidade.
É uma pena.
A escola continua com muito que aprender.
Deixo-vos um exemplo prático, convido-vos a ver este vídeo do Projeto Âncora, uma escola modelo criada pelo Professor José Pacheco, numa zona carenciada do Brasil, que, já agora, tem uma Lei de Bases do Sistema Educativo muitíssimo parecida com a nossa (o que significa que podemos perfeitamente fazer isto cá!). VEJAM ESTA ESCOLA DE SONHO, e talvez percebam um pouco melhor a minha frustração!!!