Agressividade Nas Crianças – Causas E O Que Fazer

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Agressividade nas Crianças

Entender a atitude agressiva

Importa começar por referir que a agressividade é uma emoção natural, presente em todos os seres humanos. Faz parte do nosso sistema emocional e tem funções importantes. O problema não está na agressividade, mas sim na falta de gerir as emoções mais primárias que despoletam a atitude agressiva. Atrás do comportamento violento estão emoções como frustração, raiva, medo, vergonha e também a culpa – quando a autocrítica no discurso interno se torna insuportável, viramos para fora e começamos a ser agressivos com os outros. Essas atitudes violentas são apenas a maneira que a criança encontra de expressar as tais emoções mais profundas, que são muito fortes e com as quais o pequeno ser em desenvolvimento não sabe ainda bem como lidar.

Contextos e causas do comportamento agressivo nas crianças

Primeira infância

Até aos 2 ou 3 anos as crianças utilizam a agressividade como forma de testar o mundo e os adultos à sua volta. Os pequenitos procuram entender como as coisas funcionam, os objetos e a relação com as outras pessoas. Fazem aqui importantes apropriações através das reações dos pais às suas “experiências”. Bater, morder, arranhar, são comportamentos normais nesta idade que devem ser tratados com firmeza e gentileza. A criança explora nesta fase o mundo ao seu redor e o instinto de agressividade está nos seus genes como ferramenta de sobrevivência. Há então que encarar com naturalidade esses comportamentos e fazer um redirecionamento gentil.

Brincadeiras agressivas

Os rapazes, no geral, apresentam um comportamento mais físico e violento devido à produção de testosterona, mas isso não significa que as meninas não brinquem também à luta e coisas do género. Não vale dizer “isso é coisa de meninos”, ok? Apenas deixem as crianças brincar. Brincar de luta É NORMAL E NECESSÁRIO no processo de desenvolvimento psicomotor. Os adultos podem e devem estar atentos a perigos iminentes. De resto, é deixar as crianças explorar esses limites uns com os outros, porque é assim que aprendem a gerir a agressividade e lidar com situações no futuro.

Irmãos

Entre irmãos são frequentes as brigas e lutas físicas que tantas vezes deixam os pais exasperados (?‍♀️). Importa saber que é precisamente no contexto familiar que as crianças fazem as maiores aprendizagens sobre si mesmos, sobre os seus limites físicos e psicológicos, sobre os limites dos outros. Com os irmãos temos a maioria das primeiras experiências de interação com terceiros: partilhas de brinquedos, espaços, responsabilidades, negociações, conflitos, cumplicidades e muito mais. É importante dar aos irmãos espaço para resolverem os seus conflitos – o adulto deverá intervir apenas em caso de perigo, ou quando têm muitas dificuldades na resolução, talvez possamos perguntar “Precisam de ajuda?”. Nesse caso, convém não tomar partidos, não julgar, nem apresentar ou sugerir soluções. Foque-se em colocar perguntas que ajudem as crianças a chegar a um acordo ou resolução .

Insatisfação emocional – necessidades psicológicas por preencher

Sentimos bem-estar emocional quando temos as nossas necessidades psicológicas satisfeitas. Tal como todos os seres humanos têm emoções, todos têm também necessidades emocionais ou psicológicas. A necessidade de sentir segurança, a necessidade de ter experiências novas, a necessidade de sentir pertença (a uma relação, a uma família, a um qualquer grupo, por exemplo), a necessidade de sentir reconhecimento, ser VISTO pelo que É. Todos temos estas necessidades. Quando não obtemos esta satisfação emocional – quando as necessidades não estão preenchidas – tendemos a ficar mais tensos, irritáveis, ansiosos – logo, mais agressivos. Isto funciona para crianças e adultos, já agora.

Quando denotar muita agressividade nas crianças, poderão estar algumas necessidades emocionais por satisfazer – é das grandes causas para os comportamentos violentos. Vale a pena investigar o que se passa na vida do seu filho e da família e perceber se a criança poderá estar a necessitar de mais conexão e pertença, de mais controlo e segurança, de mais novidade e experiências, ou de sentir-se mais visto, reconhecido e importante.

Em casa

Numa grande parte das vezes existem situações no ambiente familiar que devemos analisar e corrigir. Situações que podem estar a criar instabilidade – aguçando mais ainda a necessidade de segurança (de que falei no parágrafo acima). Imaginemos que os pais andam a passar por uma crise no casamento, ou no trabalho, por exemplo. As crianças são sensíveis, procure estar atento ao que se passa e provavelmente encontra uma razão para o comportamento indesejado. Os pais devem tomar consciência dos seus atos, da sua comunicação, pois a responsabilidade de reações/respostas violentas e agressivas dos pais é SEMPRE dos próprios e nunca das crianças (dica extra: assuma a sua responsabilidade com muita compaixão por si – transforme a culpa em tomada de ação consciente).

Nem sempre é uma atitude agressiva dos pais que leva à agressividade da criança. Pais que tendem a ser mais permissivos e deixam a criança fazer tudo o que quer, podem gerar também muita insegurança, falta de conexão e de limites. E isso facilmente leva também a comportamentos agressivos por parte da criança – precisamente para expressar o que sente devido à falta de orientação adequada.

A escola

Claro que nem sempre as emoções que levam à agressividade são estimuladas através do contexto familiar. Na escola pode haver uma série de situações a originar problemas emocionais – bullying, inadaptação ao sistema escolar, relação com professores, dificuldades de aprendizagem, entre muitas outras. Vemos um exemplo relacionado com os Jardins de Infância, no excerto seguinte:

“Às vezes, podemos encontrar as razões da agressividade de uma criança na escola. Principalmente no pré-escolar, em que há muito barulho, muitas crianças e poucos adultos, as condições podem ser desafiantes e pode existir um sistema rígido de regras, repreensão e exigências. Algumas crianças escolhem a conformidade (e viram a agressividade para dentro), outras o comportamento violento (a agressividade para fora – o que, por um lado, é mais saudável!)”

Mikaela Övén, in Educar com Mindfulness, Porto Editora, 2015

COISAS QUE PODE FAZER QUANDO A CRIANÇA ESTÁ AGRESSIVA

  • Retire-se do conflito e acalme-se
  • Lide com os sentimentos, por exemplo, de mágoa: “O teu comportamento diz-me que te deves estar a sentir magoado. Podemos falar sobre isso?”
  • Procure as necessidades emocionais em falta e veja como pode satisfazê-las. “Como posso providenciar ao meu filho mais segurança, mais conexão, mais reconhecimento ou mais novidades?”
  • Coloque limites de forma assertiva, sem julgar: seja firme e gentil: “Estás furioso com a tua irmã! Não te vou deixar bater-lhe. Vamos ver de que outra forma podes expressar a tua fúria.”
  • Ofereça alternativas para a expressão da emoção: “Parece-me que estás super frustrado com os trabalhos de casa. Não podemos estragar o material escolar. Se quiseres podes ir lá fora partir paus e galhos para libertar a frustração.”

E ainda:

  • Evite o castigo e a retaliação.
  • Pratique a escuta ativa: ouça com interesse genuíno e evite críticas e moralismos.
  • Partilhe os seus sentimentos honestos sobre a situação.
  • Peça desculpa se for o caso de ter tido uma atitude menos boa.
  • Reconheça e estimule os pontos fortes.
  • Nem lute nem aceite a derrota.
  • Deixe que sejam as rotinas a mandar.
  • Desenvolva o respeito mútuo.
  • Apresente opções limitadas.
  • Peça ajuda à criança para estabelecer limites razoáveis.
  • Faça o acompanhamento dos acordos estabelecidos.
  • Redireccione o poder da criança num sentido positivo.
  • Utilize reuniões de família/turma.

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