“BLLHHAAACCC que porcaria, não gosto disso, não quero comer”, dizem os meus filhos, vezes demais para o meu gosto!!
Ainda por cima não se entendem na esquisitice: ela adora batatas, ele deixou de gostar há uns meses; ele só bebe leite de vaca mas não come iogurtes nenhuns, ela adora iogurtes. Ela adora queijo, ele detesta. Batidos ninguém gosta, sumos naturais de fruta em casa, só de laranja. Ela recusa toda e qualquer fruta apenas com a exceção de bananas. Ele adora fruta e legumes crus; ela tudo o que é vegetal tem de ser cozinhado. Ele dispensa a sopa, ela vai comendo. Ninguém come coisas espapaçadas, nem pensar em purés ou empadões. Ele adora feijões, ela detesta….
Enfim, podia continuar….
Claro que nos doces estão de acordo (ou quase) ??
Digo-vos, é frustrante, passar horas a cozinhar, colocar duas ou três possibilidades em cima da mesa, e muitas vezes ninguém come quase nada! Será que é só na minha casa? Aposto que não!
Neste desafio que tem sido a alimentação dos meus filhos, sem dúvida o que aprendi com a Parentalidade Consciente tem sido de alto valor para o meu sossego mental e tranquilidade nas horas das refeições.
Deixo-vos algumas das principais orientações pelas quais me guio para lidar com estes desafios:
Tabela de conteúdos
1. A cada um a sua responsabilidade
A máxima mais espetacular, e talvez a maior aprendizagem de todas para mim, é que: “a minha responsabilidade é disponibilizar opções saudáveis para os meus filhos, e a sua responsabilidade é comer!” Muito libertador, um grande alívio, como mãe, saber que faço o que me compete!! Sem stress, sem discussões!
2. Confiança na criança e no processo
Uma abordagem Mindful da situação. Com muita atitude de confiança. Eles são saudáveis, dificilmente uma criança nesta sociedade ocidental ficará desnutrida… Eles estão a crescer fortes e inteligentes, felizmente, por isso, mesmo que às vezes me pareça que “ai coitadinhos, jantaram tão mal, agora vão-se deitar de barriga vazia”, eles na verdade não se queixam, e se calhar é porque não sentem mesmo fome! Eu às vezes também tenho mais apetite, outras menos, CONFIAR que os meus filhos conhecem e interpretam os sinais do seu organismo. Permitir que eles se mantenham conectados com as mensagens do seu próprio corpo.
3. Snacks e lanches nutritivos e variados
Ter a noção que o organismo das crianças é diferente do nosso. As crianças têm o metabolismo mais rápido, provavelmente preferem mesmo fazer mais “lanchinhos” ao longo do dia, os tais “snacks“, e depois à refeição não comem tanto. Por isso lhes dou snacks como cenouras, crackers de sementes, fruta, pão, tomates cereja, frutos secos, ou algo assim, que seja saudável e que tenha nutrientes importantes. Assim, mesmo que a refeição corra “pior”, fico mais descansada.
4. Descomplicar e ser flexível
Ser flexível!! Flexibilidade é mesmo uma competência muito útil! Refeições a horas certas, de carne e peixe, com sopa, fruta, tudo compostinho, às vezes não é possível. Às vezes comemos resto do dia anterior, com mais uns ovos cozidos, às vezes só tenho sopa, e o mais velho não quer, e eu dou-lhe pepinos, cenouras, e beterraba que ele come mesmo assim, o importante é ingerir legumes certo? (sim nesta parte tenho sorte!!). Às vezes não querem nada, ou não tenho opções suficientes, e fazemos umas papas de aveia com pêra e canela para o jantar. Às vezes eles é que decidem o que querem comer. Às vezes comemos pão com manteiga de amendoim e leite com chocolate, e também está tudo bem.
5. Limitar as opções logo desde as compras
Regra de ouro, é não permitir certo tipo de snacks a certo tipo de horas, por exemplo, ninguém quis jantar e depois querem bolachas meia hora depois! Isso comigo não funciona e eu não permito, com o simples argumento que sou responsável pela sua saúde e não posso permitir isso enquanto adulta responsável (uso sempre esta conversa, e funciona)! Primeiro que tudo, o maior truque de todos é nem ter essas coisas em casa. Muito simples, se só existem opções disponíveis aceitáveis, já vai facilitar muito! Mas por vezes tenho de dizer coisas do género ao meu filho: “A hora de jantar já passou, tinhas ali várias opções, era o que havia disponível para o jantar, agora já arrumámos a cozinha, talvez possas comer uma banana ou algo assim.” Mas sinceramente acontece cada vez menos, ele já percebeu o esquema!! 😉
6. Comunicação consciente
Também mesmo importante é eu estar congruente e alinhada com o que estou a transmitir aos meus filhos. Regras só porque sim, só porque é assim na casa do vizinho e era assim na minha casa quando eu era pequena, isso não vale. Temos de estar cientes do que estamos a dizer, seguros, firmes e gentis na nossa liderança enquanto pais. Só ofereço e disponibilizo opções com as quais estou confortável! Tenho constatado que isto reduz drasticamente a resistência e oposição das crianças! É uma dica da comunicação consciente, trasnversal a todos os temas!!!
7. Estimular a autonomia das crianças
A abordagem no estilo de oferecer os alimentos também conta bastante. Adotámos uma espécie de Baby Led Weaning adaptado, com a mais pequena, aconselho vivamente a pesquisarem sobre isto caso não conheçam (é um método alternativo ao convencional para a introdução e diversificação alimentar). Ela tem desenvolvido imensa autonomia e é muito benéfico para a relação das crianças com os alimentos. Também tento sempre que posso, colocar as opções em cima da mesa, e as crianças servirem-se à sua vontade, escolhem o que querem, e a quantidade que querem. Tenho visto isto resultar muito bem. Certo que às vezes o meu filho entre batatas assadas, ervilhas cozidas, bifes grelhados e salada, apenas retira para o seu prato ervilhas e salada. Ok, respira e confia. Pelo menos ele enche o prato!! E a refeição decorre tranquilamente, quanto não vale isso?? Portanto, estimular a autonomia, a capacidade de decisão. Fazer uma espécie de mini buffets em casa!!
8. Gerir as expectativas
Acabaram de comer, e querem sair da mesa? Normal. Dependendo da idade, claro, não vão ter a mesma paciência que nós para estar que tempos a comer. Às vezes estamos com alguma conversa, gostaria que o meu filho ficasse, então convido-o a isso. Normalmente se a conversa é interessante, nem preciso de dizer nada, ele fica por ele. Mas não o obrigo. Muito menos à mais pequena, que só tem dois anos. Por vezes comem em 3 minutos e saem da mesa, outras vezes estão lá quase 1 hora. Sentir o ritmo do dia, estar atenta ao que faz sentido em cada momento. Prefiro que vão brincar do que ficarmos à mesa em stress e conflito…
E pronto, espero que vos seja útil!
Partilhem as vossas experiências, deixem dúvidas, ou ideias novas!
Até lá, bom apetite… e muito amor no coração!!
(versão editada, do texto originalmente publicado a 08.03.2018 em facebook.com/educarladoalado)