Vejo o meu filho a arranjar um lanchinho e sentar-se no sofá a comer.
– Pedro, não se come no sofá!!
(nada)
– Pedro, estás a ouvir, sai lá daí.
(ignora-me/faz cara de quem não quer sair)
– Pedro, não me ouves, sai já do sofá imediatamente.
…
Poderia ter escalado para pior:
– Se não sais já daí, desligo a tv.
– Sai já daí antes que te dê uma palmada!
…
Provavelmente, ele tinha começado a opor-se, a gritar, a resistir, eu teria começado a gritar também, e enfim, todos sabemos como é, a partir daí a coisa só vai pela força e ameaça ou castigo.
Felizmente, neste dia tinha estado a facilitar um Worskhop, e apesar de o tema desse dia ter sido sobre como as necessidades emocionais estão por trás dos comportamentos, falou-se muito sobre Comunicação, já se sabe que é um tema transversal, e para mim, dos mais fascinantes.
Então, vinha com as ideias mesmo presentes. Foi mais fácil apanhar-me no momento, e perceber que o Pedro estava a ouvir-me perfeitamente.
Pausei, e tomei consciência da minha comunicação. Foquei-me em utilizar a linguagem pessoal, e a comunicação consciente. Fui ao pé dele, olhei-o nos olhos e disse-lhe:
– Filho, pus mesmo há pouco a capa limpa no sofá. Sei que às vezes comemos aí, mas agora está tão limpinho, como dá muito trabalho quero manter assim. Se comeres aí vou ficar nervosa e stressada. É mesmo importante para mim, podes comer agora aqui na mesa da sala, ok?”
O Pedro olhou para mim, e sem uma palavra, sentou-se meeesmo à beirinha do sofá, a comer para cima de uma mesinha mais pequena à sua frente.
Pensei: “Ok, para mim isto é suficiente :)”
O sofá não ficou sujo e eu não me chateei e ele comeu com prazer.
Às vezes, é assim tão simples.
(texto originalmente publicado em facebook.com/educarladoalado, a 24.04.2018)