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É necessário educar as crianças para serem adultos com responsabilidade
Procura educar os seus filhos para terem responsabilidade, mas eles quase nunca arrumam os brinquedos, esquecem-se de alimentar o cão, deixam até à última para os trabalhos de casa, não levantam os pratos? Hoje trago-lhe os quatro passos necessários para FAZER ACORDOS RESPEITOSOS de forma a que as crianças cumpram mais facilmente as suas responsabilidades. Leia este artigo, aplique os passos e verá que o seu filho vai arrumar o quarto muito mais facilmente. ?
Com passos simples e fáceis de aplicar mesmo que nunca tenha ouvido falar de Disciplina Positiva. Vou mostrar-lhe uma alternativa às punições, recompensas e consequências – envolvendo as crianças em acordos – o que faz com que assumam responsabilidade através de um acompanhamento gentil e firme do adulto. Educar assim é mais fácil!
“Já te disse 371534217 vezes para arrumares o quarto!!”
Quantas vezes não se cansa de se ouvir a si mesmo, repetindo várias vezes algo que seria responsabilidade das crianças, mas que parecem adiar até ao último minuto. Parece que não fazem nada sem ter de as lembrar montes de vezes, e depois o lembrete já vem muitas vezes em modo agressivo, pelo cansaço da repetição. Este tipo de situação normalmente descamba em chatices, cobranças, gritos e ameaças. A criança até pode acabar por cumprir a tarefa, mas será que aprendeu o que verdadeiramente lhe queria ensinar – a importância de cumprir as suas responsabilidades? Ou acabou por cumprir apenas para não ficar sem TV, por exemplo?
Mas porque é que não ouvem?
Por vezes sente-se ignorado pelas crianças? Parece que não o ouvem, que têm ouvido selectivo, que só ouvem o que lhes interessa, não é? Bem, a verdade, como todos sabemos, é que eles ouvem e muito bem, na maioria dos casos.
Se costuma perder a paciência com facilidade nestes casos, pode ler aqui o artigo “Um segredo para ter mais paciência”.
As crianças claro que vão levar o jogo delas até onde conseguirem, porque, confessemos, arrumar o quarto é chato, dobrar as meias é um suplício, apanhar o lixo é aborrecido. As crianças estão a testar o mundo à sua volta, a testar as relações com as outras pessoas e as suas reações. Se, sem grandes consequências, dá para ir adiando a tarefa chata, então é isso que as crianças vão fazer. Depois lá vem uma ameaça de retirar o jogo preferido, ou não ir àquela festa prometida. E aí, se sentem que os pais são capazes de levar a ameaça em frente, então lá se decidem a cumprir a sua tarefa.
O que se passa é que muitas vezes nós, os pais, não estamos a usar a comunicação e a abordagem mais eficazes na hora de educar e de transmitir responsabilidade.
Se quer saber mais sobre comunicar de forma eficaz com as crianças pode consultar aqui e aqui artigos sobre este tema.
Na nossa pressa de querer apenas fazer cumprir o que é suposto, esquecemos que a médio e longo prazo a estratégia não está a ser eficaz. Até porque no dia a seguir, na semana a seguir, lá nos vemos envolvidos de novo na mesma discussão e na mesma dificuldade. “Arruma o quarto senão jogo o raio dos brinquedos todos para o lixo!!”
Então, o que fazer?
Para educar para a responsabilidade, pode utilizar a estratégia de FAZER ACORDOS – e mais tarde fazer o seu acompanhamento eficaz. Podemos aplicar esta ferramenta muito simples com várias idades e situações, adaptando, claro, a linguagem e as nossas expectativas também.
Tomemos como exemplo uma situação de a criança não querer arrumar a sua própria roupa, imaginemos uma criança com cerca de 8, 9 anos. Os pais já estão fartos e cansados de repetir a mesma coisa, pedindo à criança que arrume a roupa, sendo que a criança adia, ignora, enrola… e a roupa fica por arrumar na mesma, ou pior, é toda mal arrumada, enfiada na gaveta ao calhas.
O que poderíamos fazer então? Seguem-se os 4 passos para fazer acordos e educar as crianças para terem mais responsabilidade:
1. Tenha uma conversa amigável na qual todos possam expressar o que pensam sobre o assunto.
Identifique um momento calmo, onde estejam tranquilos e o mais conectados possível, no qual se possam sentar e debater o que se passa. Pode dizer: “Preciso de falar em família sobre uma situação.” Fale na primeira pessoa, evite críticas e acusações. Diga como se sente em relação ao problema e basicamente coloque o problema na mesa, mostrando que precisa da colaboração de todos para resolver:
- “Ando a sentir-me bastante ansiosa porque ao ver a roupa espalhada, transmite-me desarrumação e desorganização, e isso faz com que me sinta desconfortável.”
- Ou: “Temos de falar sobre as regras de organização da casa, pois vivemos aqui 4 pessoas e temos de nos organizar para que o nosso espaço seja confortável para todos”.
- Ou: “Vejo que a tua roupa continua espalhada e isso está-me a deixar nervosa.”
Termine a sua BREVE exposição com algo do género: “Gostava de ouvir o que pensas sobre isto”.
Ouça também o lado da criança em relação ao assunto – mesmo que a criança diga coisas que o deixam mais nervoso ainda, do tipo “eu não me importo com a roupa”, ou “se não gostas arruma tu”. Respire fundo, lembre-se que procura educar o seu filho para assumir mais responsabilidade, por isso mantenha-se calmo e focado em falar na primeira pessoa. “Ok, compreendo o que sentes, estou a ver o teu ponto – não estás muito interessado, eu percebo, é uma coisa que não te incomoda – mas EU fico muito incomodada, e EU continuo desconfortável nesta situação. Continuamos a precisar de uma solução viável. Para podermos viver em família de forma tranquila penso que é importante estarmos todos confortáveis. Então precisamos de colaborar para isso”. Evite julgar a opinião da criança, evite dar moralismos, ainda não é agora a hora que a criança vai aprender algo. Controle o que diz e mantenha-se paciente. Fale com honestidade e autenticidade.
2. Elabore soluções possíveis e de seguida escolha uma com que todos concordem
Então, no primeiro ponto expôs o que pensava e sentia em relação ao problema sobre arrumar – e todos os elementos envolvidos fizeram o mesmo. Agora é hora de começar a pensar em soluções. Não vale a pena ficar a reforçar como todos são desarrumados, ou como já é a 326º vez que têm esta conversa. FOQUE NA SOLUÇÃO. Pensem em variadas possibilidades: “Gostaria que pensássemos juntos em soluções para esta situação.” Liste numa folha de papel as ideias, se for preciso. Mais uma vez não critique as possíveis soluções “ridículas” que o seu filho possa apresentar. Primeiro que tudo, estão a ter ideias e todas as ideias são válidas. São só ideias, não quer dizer que vão ser postas em prática! Depois de listar todas as ideias de soluções vejam qual aquela com que todos se sentem mais confortáveis. Quanto às ideias que não lhe agradam, e se a criança quiser insistir nelas, apenas diga: “Eu não estou confortável com essa solução. Temos de encontrar um acordo que seja aceitável para os dois.”
3. Combinem um prazo específico (com dia e hora exatos!)
Talvez aconteça, no caso de arrumar a roupa, que a criança não queira arrumar NAQUELE momento específico – muitas vezes precisa de sentir algum poder (controlo) e autonomia. Combinem uma hora mais tardia em que a criança escolhe a hora a que quer realizar a tarefa. Muitas vezes é o suficiente para resolver o problema. Uma das soluções que pode sair do ponto anterior até pode ser: “O Joãozinho arruma mais tarde, ou amanhã”. Aí, definam uma hora exata para a combinação. “Ok, não te apetece arrumar agora, então a que horas achas que poderias arrumar? Hoje às 19h? Amanhã às 10h30? Domingo às 9h?” Tenham atenção se a hora definida é viável (os pais TÊM de se sentir confortáveis com a combinação). Antecipe possíveis percalços e acerte uma coisa que seja realista. Definir uma hora certa para o cumprimento é muito importante, não salte este ponto.
4. Ajuste expectativas e cumpra a sua parte do acordo.
Quando fizerem o acordo, dê a entender que pode ajudar a criança lembrando-a um pouco antes da hora combinada. Ou talvez possam colocar um alarme algures e não seja preciso a ajuda dos pais. Seja sensato e assuma que, dependendo da idade, provavelmente a criança não se vai lembrar sozinha. Aqui tenhamos em conta a idade e etapa de desenvolvimento da criança. Faça a sua parte como pai ou mãe, e lembre-a com a antecedência combinada no acordo.
E quando as crianças não querem cumprir o combinado?
Educar é uma coisa demorada, e para incutir valores como a responsabilidade é preciso ser persistente e paciente. Muitas vezes os seus filhos poderão cumprir admiravelmente o acordo feito (depois conte-me esses resultados maravilhosos). E muitas outras irão recusar-se e fazer-se de difíceis.
No próximo post vou trazer a continuação desta dica, vai ser sobre como fazer o acompanhamento eficaz destes acordos – ou seja, o que fazer quando a criança não cumpre o combinado. Fique atento, pois é por vezes complicado fazer o acompanhamento e é aí que as maiores aprendizagens são adquiridas pela criança ou jovem. Se é sortudo suficiente para que estes passos apenas cheguem para a criança cumprir, ótimo! ?
Conte-me nos comentários ⬇ ou numa mensagem privada se tem alguma dificuldade com estes passos, ou em aplicá-los à sua situação específica.
Até breve e bons acordos!