Os momentos de férias com os filhos são sempre muito desejados por todos nós: descanso, tempo de qualidade juntos, jogos, mergulhos e descanso… ou não. É sabido que quando chega a altura das férias, estar 24/24h todos juntos com as crianças pode ser bastante intenso e cansativo.
Há algumas semanas fui de férias com o meu marido e filhos para um local estilo resort, vocacionado para famílias. Dada a minha área profissional (e a mega proximidade entre as espreguiçadeiras!), foi impossível alhear-me completamente e dei por mim a observar várias dinâmicas familiares e vi muitos pais super stressados – e em alguns momentos, eu fui um deles.
É que nem sempre o tempo de férias com os filhos corresponde à expectativa idílica de ficarmos estendidos ao sol, ler livros inteiros, beber cocktails deliciosos (às vezes dão-te versões frozen de máquina?), dormir imenso, comer descansada à mesa… Não. Falo por mim, mesmo sabendo tudo o que já sei, não evitei de criar aquela expectativazinha de fundo. Depois, o que houve na realidade foi “quero água”, “tenho cócó”, “tenho fome” (acabados de sair do buffet), “tenho cócó”, “tenho frio”, “ela não me dá a pistola”, “ele não me dá a bóia”, “quero levar este brinquedo super caro e cheio de mil peças para a piscina”, “mãe.. tenho cócó” …
Estava eu para aí no terceiro dia, e a começar a ganhar irritação crescente por ainda não ter conseguido ler mais do que duas páginas de seguida do meu livro, o meu marido a ter que resolver assuntos do escritório por telefone, os meus filhos a implicar um com o outro por tudo e por nada, o mais velho cheio de atitudes que eu só conseguia classificar como ingratas…
Estávamos num sítio totalmente orientado para crianças – shows infantis, jatos de água, piscinas infantis, parque, insufláveis, clube de atividades, praia a 100 metros – obviamente cansados de tanto estímulo e informação nova, as crianças estavam a apresentar comportamentos desafiantes, claro … ou seja, eu já estava a deitar o resort pelas orelhas e dei por mim a desejar que chegasse o fim das férias. Foi um pensamento que me calhou mal porque, raios, levei meses a desejar aqueles dias!!
Mesmo por esses dias saiu o episódio 104 do podcast Inspiração Para Uma Vida Mágica, do Pedro Vieira e da Mikaela Öven. O episódio chama-se “Que cara queres fazer nas férias?” (podes ouvir aqui), e veio a calhar porque eu poderia bem naquela altura melhorar as caras que andava a fazer.
Então nessa noite, depois de os miúdos caírem na cama, ouvi o podcast e fiquei na mini varanda com vista para a piscina barulhenta, sentada, frustrada comigo própria, e a refletir profundamente sobre que cara queria fazer no resto dos dias.
E o resto das férias foram perfeitas na sua imperfeição.
De resto, não é preciso ir para piscinas, hotéis e praias, para dar em louco com os filhos em tempo de férias. Tenho tido o privilégio de passar praticamente o Agosto inteiro com os meus filhotes… e não é fácil. Interações entre eles, a casa para cuidar, agora têm fome, agora andam à batatada, agora discutem por causa dos desenhos animados que querem ver, agora derramaram toda a sopa, agora querem pintar aguarelas.
Eles estão de férias e eu estou ao serviço deles, e ainda a tentar jogar uma mão ao e-mail, uma mão à cozinha, um olho às solicitações familiares, a casa, e eu própria. Eu própria.
Sei que não serei a única.
Cá em casa uns dias são melhores e outros piores, sem pretensões de perfeição. Tem dias que o sol me inspira, tenho energia para fazer tudo com eles, estou cheia de ideias, eles colaboram, e é tudo o máximo. Sou grata pela minha sorte, que privilégio o nosso.
Outros dias nada me anima, tudo me irrita, eles fazem imenso barulho e não querem comer nada do que lhes apresento. Só quero estar sozinha para fazer exatamente NADA. As horas parecem infinitas até que o pai chegue do trabalho e alimento um secreto desejo de trocar com ele e enfrentar desafios empresariais, telefonemas, reuniões, relatórios e prazos…
Penso na escola que nunca mais começa e fico zangada comigo própria, porque sei que a vida passa muito rápido e quantas saudades vou eu ter deste verão. Recrimino-me o menos que consigo, sabendo que todas as emoções são válidas e que é tudo bem me sentir assim. Eu não amo menos os meus filhos por ter esses pensamentos.
Ser mãe é duro e intenso. Está tudo bem.
“O Verão vai acabar em breve, assim como a infância.”
George R. R. Martin
(Setembro de 2019)