“Não quero ir emboraaaa!”

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não quero ir embora

Fomos à fonte onde costumamos ir buscar água, no outro fim de semana. A fonte é num sítio lindo e tem um pequeno lago onde as crianças gostam de molhar os pés. Seja verão ou inverno, convenhamos. Ou tenham tido febre no dia anterior ou não, também 🙄 #nocomments

Como fomos os 4, enchemos rapidamente todos os garrafões. Íamos embora, mas a mais nova, 6 anos, pediu para ficarmos um pouco, porque estava tão agradável. Porque não, pensei? Ela pediu para tirar os sapatos e molhar os pés como de costume. Sentei-me por perto. Já se estava a inventar todo um jogo com pedrinhas e a minha filha dizia, divertida: “Ainda bem que ficámos, não foi, mamã, é tão bom estar aqui!”. Sabem, todo um momento sereno.

Mas como nunca é tudo rosas na maternidade, nem tinham passado 5 minutos e a Inês escorregou e aterrou no lago, que lhe dá pelos joelhos mas que caindo, obviamente que a encharcou toda. Calças que estavam arregaçadas, cuecas, vestido e um booom bocado das 2 camisolas que tinha. Recordo que ela tinha tido febre no dia anterior 😬

Não havia grande solução a não ser ir embora. Claro que a Inês resistiu, disse que não, que íamos brincar e que não se importava de estar molhada, etc. Compreensível, ela estava mesmo entusiasmada e estava de facto ali muito agradável. Fui empática e validei todos esses sentimentos. Mas não estava a resultar. Então serve já aqui para dizer que nem sempre apenas validar as emoções resulta. Temos na mesma de fazer sempre isso? Sim. Validar emoções é sempre importante até porque ajudou a conectar e a facilitar o momento seguinte, que foi o de usar outra estratégia.

Então, neste momento a Inês estava a ficar chorosa e eu insisti duas ou três vezes que tinha de ser, e tal… Como a coisa só estava a escalar (em mau), precisei de parar. Segundo parêntesis: nem sempre consigo parar, obviamente. As vezes que consigo, como na fonte, vejo o quanto isso funciona, e isso dá-me alento a fazer o que tenho que fazer para melhorar esta minha competência de PARAR.

Então, como nesse momento fui capaz, parei. E pensei: “Se eu continuo a insistir, ela vai chorar mais e mais, isto não parece ir acalmar. O que posso fazer? Como pode ela sentir o seu desejo respeitado, como posso arranjar uma solução que agrade a todos? Quanto me posso flexibilizar?”

Então disse: “Inês, nós precisamos ir porque estás molhada. E tu queres jogar muitas pedras no tubo de água porque é muito divertido vê-las a aparecer do outro lado.” Ela acenou afirmativamente.

E de seguida, a pergunta mágica: “Quantas pedras queres jogar, para te divertires um pouco, e depois irmos embora?” Ela disse: “Mil”. Eu disse: “Uiii tantas, acho que nem tem mil pedras aqui! Quantas achas que queres fazer antes de irmos?” Ela disse: “5”. “Ok, 5 parece-me bem. Então jogamos 5 pedras e depois vamos.”

Ela explicou como era, eu jogava pelo tubo, ela apanhava, e trocávamos. Fizemos o combinado. Fizemos até mais umas quantas vezes porque jogar 5 pedras foi bastante rápido. Ainda tirámos umas fotos. E assim foi. Quando terminámos, a Inês veio embora pacificamente.

Eu e a Inês antes de vir embora da fonte

Às vezes é tão simples assim. Mas será? Aquele simples foi resultado de muitas crenças desmistificadas, de um dia bom, de emoções acolhidas. Há um trabalho antes destes momentos “simples”.

Se há coisa que não devemos fazer nestes momentos do “não quero ir embora” é reagir de forma agressiva, impulsiva, controladora ou manipuladora. Tudo isso piora a relação e não ensina as habilidades de vida que queremos ensinar. Até pode funcionar sim, mas tem custos.

Por exemplo, quando fazemos a velha ameaça: “Se não vieres, olha, vou-me embora sem ti”. Isto é mentira e manipulação pura. A criança, se vier, vem por medo e não por entendimento da importância e da necessidade de vir embora. Fomenta a desconfiança da criança em nós e passa uma mensagem ao subconsciente de que ela não é capaz de lidar com as suas emoções difíceis (por exemplo, a frustração de querer ficar lá e não poder).

Se só pensamos no curto prazo não estamos provavelmente a educar de acordo com as nossas intenções.

Em cada momento e situação temos uma oportunidade de educar a nossa criança, orientar na sua gestão emocional e fortalecer a nossa relação com ela. Se não aproveitamos os momentos do quotidiano, então quando vamos educar?

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