Tabela de conteúdos
Ataques de fúria e agressividade infantil
Sabes aquelas crianças que perante uma adversidade reagem de forma muito intensa? Quando se irritam têm dificuldade em manter o controlo e por vezes acabam por ter um ataque de fúria? Ou seja, gritam, berram, choram, gritam, e até podem partir coisas à sua volta, ou atirar objetos. São muito físicas, podem ficar violentas e ser agressivas para as outras pessoas.
É bastante frequente receber perguntas dos pais com esta preocupação. Ficam sem saber o que fazer perante esse cenário. Perguntam-me: “Devo ralhar? Devo castigar? Como faço para ele parar? Tenho que lhe ensinar a portar-se bem!”.
De onde vem isto?
A expressão agressiva é normal até um certo ponto em todas as crianças. Faz parte do nosso instinto de sobrevivência. Em certas crianças é mais evidente do que noutras e quando se começa a revelar em termos de ataques de fúria, pode significar ali algo mais do que só o instinto natural de alguma agressividade. Aqui já estamos a falar de desequilíbrio emocional, níveis baixos de resistência à frustração, fracas competências de gestão emocional, ou até mesmo traumas, dificuldades com períodos de conflito ou transição – só para dar alguns exemplos. É sempre uma situação multifatorial e cada caso tem o seu contexto próprio.
Importa perceber que os ataques de fúria são uma expressão comportamental. Morder, bater, arranhar, são as partes visíveis de um iceberg. São os comportamentos que nós vemos expressos. Por baixo, ou seja, por trás desse comportamento estão necessidades emocionais insatisfeitas. O comportamento agressivo é a forma de a criança nos comunicar que tem aquelas necessidades por preencher, pois não tem outra forma de o fazer. Ou seja, o comportamento não é o problema.
Se os ataques de fúria forem cada vez maiores e mais intensos, temos mesmo de avaliar o que se passa. Excluindo casos clínicos, ou seja, numa criança comum e saudável, os ataques de fúria são a expressão mais intensa que a criança arranja de nos mostrar que algo se passa com ela e ela não sabe como o demonstrar. Falei muito sobre isto num direto que fiz no meu Instagram – ficou salvo no IGTV (podes ver aqui.)
Como entender as necessidades emocionais?
Existem múltiplas teorias para nos explicar o comportamento e as necessidades humanas. Todas concordam que os nossos atos, atitudes, comportamentos, ações, servem para satisfazer uma necessidade.
Eu costumo falar no Modelo Laser da autoria de Pedro Vieira (vê mais sobre o seu trabalho aqui). Se segues o meu trabalho já me deves ter ouvido falar sobre isto. Este modelo colorido é excelente para perceber 4 áreas fundamentais de necessidades humanas. Necessidade de segurança e controlo; necessidade de reconhecimento e importância; necessidade de experiência e novidade; e necessidade e conexão e pertença.
Conhecendo estas necessidades poderemos ter comportamentos mais proativos como pais, garantindo que nenhuma destas áreas está muito subnutrida. Este post não pretende ser sobre o Modelo Laser, mas se ficaste com dúvidas envia-me mensagem que posso explicar-te melhor.
Educação emocional é chave
Sem dúvida uma das maiores ferramentas para lidares com estes ataques de fúria é a Educação Emocional. Conhecer as emoções, saber identificá-las, nomeá-las. Saber ensinar isso aos nossos filhos é essencial. Para isso precisamos de saber isso nós também. Sabermos ouvir-nos por dentro e perceber que a cada momento posso sentir raiva, medo, angústia, irritação, tranquilidade. Não tenhas medo de dizer os nomes das emoções em voz alta – isso normalmente ajuda a acalmar. Ajuda a criança a perceber o que está a sentir.
As emoções mais desagradáveis e desafiantes podem mexer muito connosco. Uma das maiores aprendizagens que podes fazer e ensinar ao teu filho também é perceber que todas as emoções vêm, ficam um pouco e vão. E que existem formas muito pessoais que podemos ter para lidar com cada emoção complicada. Formas de autorregulação. Pode ser beber água, dar um passeio, respirar profundamente, molhar a cara, dar festas a um animal de estimação. Há mil e uma formas de gerir as nossas emoções, só não podemos reprimi-las. Porque depois elas saem da pior forma. Em ataques de fúria por exemplo…
Se não estás muito por dentro, aconselho vivamente a leres mais sobre educação emocional para poderes orientar o teu filho em todos os momentos – especialmente quando tem ataques de fúria.
Mas e quando o ataque de fúria está a decorrer?
- Não ignores, não ralhes, oferece antes uma presença consciente, ou seja fica presente e empático com o que está a acontecer. A tua criança está com dificuldades e precisa da tua ajuda.
- Evita julgar, condenar, humilhar, recriminar. As crianças pequenas têm pouca capacidade de controlo e quando o sistema emocional entra em ‘tilt’ não vale a pena querer educar. Não critiques nem moralizes, ajuda.
- Pensa que há momentos melhores para educar e podes falar mais tarde com a criança sobre o que se passou. No momento da crise, só queres ajudá-la a regular-se de novo.
- Acolhe com toda a tua empatia e compreensão o que se está a passar. Não julgues os seus motivos. Tenta compreender. Normalmente os ataques de fúria só pioram quando começamos a dizer coisas do género: “Então mas é preciso isso tudo, pára já com isso, pareces um bebé, que vergonha a gritar, olha assim não gosto mais de ti, mas que coisa a chorar por causa de uma treta destas…”. Faz um esforço por compreender, que seja o que for que está a causar o ataque, é importante para a criança.
- Coloca limites de forma gentil e firme. Não permitas que a criança estrague coisas ou magoe alguém. “Não te vou deixar bateres-me. Podes libertar a tua fúria nesta almofada”, “Não te vou deixar estragares isto. Percebo que estás furioso, que outra forma tens de libertar essa fúria?”
- Não castigues ou dês punições porque a criança teve ataques de fúria. Ela não fez de propósito, ainda está a tentar perceber como funciona o seu sistema emocional e precisa de ajuda para isso. Podes sim falar de como te sentiste quando te bateu ou estragou algo, ou como ficaste a pensar em como o podes ajudar a ter melhores formas de gerir a raiva nas próximas vezes. Isso é a verdadeira educação a longo prazo.
E que mais?
Existem imensas estratégias e ensinamentos da Disciplina Positiva e Parentalidade Consciente para ajudar a prevenir estas situações. Mais do que saber o que fazer na crise, pensa no que podes fazer para a evitar. Já falamos de apostar no conhecimento das necessidades emocionais – eu acho sinceramente que esse é um ponto chave nesta questão. Podes por exemplo pesquisar no Pinterest que tem imensas ideias giras, existem uns cartões com carinhas com os vários sentimentos, é um exemplo de um material que ajuda na educação emocional.
Outras coisas preventivas que podes fazer:
- Utilizar a ferramenta “Roda de escolhas da raiva” – podes ver neste IGTV como fazer, aqui.
- Utilizar a firmeza e gentileza no dia a dia.
- Aprender mais sobre as ferramentas da Disciplina Positiva.
- Verificar como está o estabelecimento de limites aí em casa e a qualidade da tua comunicação com as crianças.
- Ter atenção ao teu próprio comportamento, pois nós modelamos tudo para os nossos filhos e eles imitam muito do que vêm, e são muito sensíveis e reativos ao nosso stress e ansiedade. Como andam os teus níveis?
Haveria mais a dizer sobre ataques de fúria, mas acho que já deixei aqui umas pistas importantes. Continua a acompanhar o meu trabalho pois sempre venho com dicas e conteúdo que ajuda pais cujos filhos têm um comportamento desafiante ou difícil.
Se gostaste deste post, partilha com alguém que aches que precisa de ler isto.
Até já!