Um Segredo Para Ter Mais Paciência

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Como é que a palma da nossa mão está relacionada com a nossa paciência? (Não, não é para dar umas palmadas quando perdemos a cabeça!) Há um pequeno “segredo” que pode perceber usando simplesmente a palma da sua mão, que vai ajudar a ter mais paciência. Ficou uma curiosidade? Venha comigo que vou explicar!

Que paciência de Jó!

No fim de um dia que começou às 6h30, envolveu trabalho, viagens, tarefas diversas, mais trabalho, eventualmente uma passagem pelas compras, ir buscar os miúdos à escola. Chega-se a casa e há o jantar para orientar, banhos, desarrumações para ir gerindo, aquela máquina de roupa que tem mesmo de ser apanhada e dobrada. Aquele mail do trabalho que ainda ficou por enviar. Os miúdos começam a discutir na sala, até já voou uma almofada, enquanto estamos com um olho no tacho e outro nas lancheiras que precisam ser lavadas para o dia seguinte. “Podiam estar sossegados a jogar um jogo, mas não… não conseguem estar a brincar os dois por um momento, raios!”. Lançamos um grito da cozinha: “Quietos meninos, não comecem a brigar”. Mas quem é que liga a uma mãe a balbuciar qualquer coisa lá da cozinha, especialmente quando está uma carrada de adrenalina a percorrer aqueles corpitos? Os pulos no sofá e brincadeira de luta aumentam a bom ritmo, mais umas ordens pelo caminho (“Parem com isso imediatamente, já vos disse!”) e claro, não tarda está um a chorar-me às pernas, ou algo partido, ou a sala num caos.

Quando temos falta de paciência, é muito fácil esta situação, ou outra do género, escalar para um certo descontrolo, em que acabamos, possivelmente, a mandar uns berros e umas ameaças, quem sabe umas críticas e acusações, e a situação lá se controla. Por agora. E à custa de quê?

Mais uma vez, perdemos a tal da boa e velha paciência, que parece mais difícil de encontrar do que um diamante.

Mas como mudar isto? As coisas estão por fazer, tenho que trabalhar, a roupa não aparece dobrada nas gavetas sozinha. Eu SEI o quão instalados os nossos hábitos podem estar, e como nos sentimos por vezes como um hamster na sua roda. Parece que não opções. Nem paciência, nem opções!

Mas porquêêê?

Paciência é aquela coisa que podia aparecer numa prenda de natal, certo? Devia-se poder comprar nas lojas e encomendar pela internet. (Serviço de “entrega na hora” para mim, por favor!) Ser mãe e pai já é intenso que chegue, mas a isso juntam-se todas as exigências do mundo de trabalho, a vida social e familiar, manter uma relação conjugal, termos tempo para nós, manter a casa limpa e organizada… Ninguém disse que era fácil. E não é mesmo. Ou a conta bancária permite contratar muitas ajudas, ou o tempo torna-se de facto escasso e facilmente o cansaço se acumula. E o cansaço é dos maiores inimigos da paciência.

Se não tomamos conta do que acontece com a nossa vida, tornamo-nos as mães cansadas, os pais exaustos. Eu às vezes meto-me a imaginar o meu filho, quando tiver uns trinta anos, e alguém lhe perguntar como era a sua mãe quando ele era pequeno: “A minha mãe, ah, ralhava muito e estava sempre cansada…” ? NOOOO!!

Perceber o funcionamento do cérebro – o modelo do cérebro na palma da mão

Então estou interessada em decifrar este segredo da paciência e em perceber soluções estruturais que me possam ajudar a lidar com isto. Uma das mais eficazes que conheci até agora, além da prática meditativa, foi o modelo do cérebro na palma da mão, criado pelo Dr. Daniel Siegel. Mais sobre o autor, aqui.

O Dr. Siegel mostra de uma forma simples como podemos entender melhor o cérebro usando apenas a nossa mão. O que é isto dos ataques de fúria, gritos descontrolados, esta sensação de “perder a cabeça”. Tudo isso, são respostas do nosso sistema a estímulos. Todos os nossos comportamentos procuram responder a necessidades. Então o que se passa no meu cérebro, que necessidades tenho eu, porque grito e perco a paciência?

Foto 1 – Imagine a zona das unhas representando a zona da testa, a mão assim faz um bom modelo do cérebro

Vamos então olhar o que se passa no cérebro e usar a neurociência aplicada à parentalidade:

Na foto 1, podemos ver a mão com o polegar junto à palma e os dedos sobrepostos – este é um modelo muito útil do cérebro. Ora imagine o pulso e o antebraço a representar a coluna. A palma e o polegar vão representar a zona mais profunda do cérebro, e os dedos por cima representam a zona mais frontal.

E quando vemos assim, à nossa frente, o cérebro e o que está a acontecer com ele, vai tornar-se muito mais fácil mudar o que o cérebro faz. Este é o verdadeiro segredo do autoconhecimento. Este poder. Termos controlo sobre a nossa reação.

Foto 2 – destaque da zona mais primitiva e interior do cérebro, o sistema límbico do qual faz parte a amígdala (representada pelo polegar)

Então o que acontece nas estruturas do cérebro? Imagine, vendo a foto 2, que a zona final do pulso entrando pela palma (onde faz aquelas rugas na mão), junto com o polegar, vão representar o tronco cerebral e o sistema límbico, que são as áreas do cérebro que trabalham juntas para regular a excitação, as emoções, e a maneira como o nosso sistema atua com a resposta de luta ou fuga – estas áreas entram em ação quando sentimos emoções de medo, ameaça ou stress, e emitem ordens muito específicas ao corpo: entrar no modo luta ou fuga (o que nos leva a gritar, atacar, ser agressivo OU evitar o assunto, ser permissivo, evitar confronto). Estas áreas responsáveis por estas respostas primitivas (tão essenciais para a nossa sobrevivência) estão abaixo do córtex.

O córtex é a área superior do cérebro (representada quando sobrepomos os dedos, como na foto 1), e é responsável por perceber o mundo à nossa volta, pensar e raciocinar de forma lógica. E a parte bem à frente, logo atrás da testa, é a parte que regula o sistema límbico e o tronco cerebral subcortical. Essa regulação é importante porque, às vezes, temos coisas a acontecer nas nossas vidas: cansaço, exaustão, alguém que pressiona aquele ponto de emoção vulnerável. Então, aí, nós perdemos a paciência, “perdemos a cabeça”, ou seja, levantamos os dedos (o cortéx deixa de funcionar) e em vez de continuarmos centrados, sintonizados e conectados, nós perdemos toda a flexibilidade, e até perdemos o raciocínio moral e agimos de maneiras que são aterrorizadoras para os outros. Incluindo os nossos filhos.

O facto é que nós temos a capacidade de nos sintonizarmos e ficar com a faixa superior do cérebro a comandar – e assim, conseguimos apaziguar a situação com os nossos filhos, por exemplo. Quando tomamos cada vez mais consciência de nós, dos nossos pensamentos, do que sentimos fisicamente com as emoções fortes (pressão na barriga, respiração superficial, coração acelerado, seja o que for no seu caso), é mais fácil perceber quando as emoções estão a ser um gatilho para a nossa amígdala – que pode estar prestes a disparar a reação de luta/fuga. Vamos então comunicando isto interiormente e também às pessoas à nossa volta. Por exemplo assim:

“Estou a começar a sentir uma irritação a subir pelo peito, sinto que a minha tampa está quase a saltar. Preciso de um tempo para me recompor, antes que o córtex deixe de funcionar.”

Este modelo é muito fácil de explicar a crianças tão pequenas como 5 ou 6 anos, para que os ajudemos a perceber quando as suas emoções estão a surgir pelo tronco cerebral e área límbica, e como isso se sobrepõe à parte pré frontal, fazendo-os quase perder a paciência.

O Dr Siegel relata histórias de crianças que aprenderam este modelo, e de como mais tarde, em momentos de tensão, elas o abordavam para dizer que estavam quase a perder a paciência e que precisavam de um momento para esfriar a cabeça. Trata-se do conceito de “name it to tame it” – uma ideia que significa: se conseguires nomear, identificar o que se está a passar com as tuas emoções, é mais fácil domá-las. Recomendo vivamente este vídeo, aqui (é em inglês), onde o Dr. Daniel Siegel explica este processo, que é muito útil para acalmar birras, por exemplo. É mesmo muito interessante perceber como os dois hemisférios do nosso cérebro se complementam e integram para a nossa regulação emocional e recuperação de controlo.

E enfim, é este o poder da informação e do conhecimento. Estes são os poderes e “segredos” deste modelo que pode ser usado por nós e pelos nossos filhos. Espero que vos seja útil.

Se gostaram do post, partilhem nas vossas redes e com quem acham que precisa mesmo de conhecer esta informação: pais, mães, avós, professores, educadores…

Até ao próximo post!

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